quinta-feira, 8 de maio de 2014

CSC - Dia 05 - Azofra a Villafranca Montes de Oca


Ainda ontem

Ontem nao mencionei, mas no caminho pra Logrono, de onde enviei o post anterior, estava pedalando normalmente quando passei por uma turma de peregrinos caminhando e cantarolando o ritmo daquela mùsica italiana que todos cantam quando pensam em massas.. rs.. logo depois, no pueblo de Sansol, um funcionario da panaderia cantava e cumprimentava todos alegremente. Isso parece bobagem, mas deu um gás extra para a pedalada. Pouco depois dessa hora eu encontrei com um casal que faz o caminho de bicicleta, sempre encontro com eles, mas nao sei a nacionalidade ou o nome deles, mas sempre nos cumprimentamos, tentamos conversar alguma coisa (nunca conseguimos) e seguimos.

Em Logrono eu havia combinado com Jesus de talvez espera-lo na entrada da cidade para a parada e almoço. Acabamos nos desencontrando e sai andando por Logrono, pelo próprio caminho, conhecendo a cidade e a procura de um bom lugar para almoçar. Nessa, acabei me distraindo e quando vi já estava saindo da cidade. Bom, já estava seguindo para a próxima cidade, disposto a comer apenas lá, quando me percebi que estava sem água (água nao tem sido uma preocupacao, tem muitos pueblos e fontes, acabei relaxando). Bom, assim mesmo segui esperando encontrar uma fonte ou ir até Navarrete. Porém, para minha surpresa, mais uma imensa sorte no caminho, logo após passar perto de uma lagoa, já fora da cidade, tinha um restaurante com uma fonte na frente. Quando paro pra encher a água, quem está saindo do restaurante para ir na fonte? Claro! Eu e Jesus (lê-se Rêssús) almoçamos nesse restaurante, de frente pra lagoa, belìssima vista, comida muito boa. Como o garçom confundiu uns pedidos e demorou um pouco, o dono nos concedeu um desconto, só cobrou o menú; e as cervejas, vinhos e cafés ficaram, como diz Jesus, "pela cara".

Durante esse almoço Jesus, pressentindo que dessa vez seria realmente a última vez que nos verìamos no Caminho (parece que será), me passou algumas dicas do caminho, indicou um bar de um amigo, pegou meus contatos. Nos despedimos pela quarta ou quinta vez, deu tempo de tirarmos fotos com umas pedras enormes perto do restaurante.. e bora pra Najera.

É estranho conhecer pessoas tao bacanas no caminho e depois saber que dificilmente as verá de novo...

Bom, coisas do caminho, voltando ao pedal, passei em Navarrete, parada técnica para abastecer o ciclista em Ventosa, segui pra Najera, vendo poucos peregrinos e muitos ciclistas locais, tanto de mountain bike pelo Camino quanto speedeiros nas carreteras. O caminho nessa parte é quase todo em meio a plantaçoes de uva para fazer vinho. Troquei uma idéia por um tempo com um agricultor (que fala muito e muito rápido) e entendi uns 70% do que ele falou. Ele nao esta muito satisfeito com as cooperativas, com o preço da uva, com os políticos, com quase nada. rs

Aproveitando, o Caminho vai acompanhando a Carretera em quase todo o trecho, em alguns se afasta, em outros a cruza, tanto que vários peregrinos, em especial bicigrinos, optam por fazer trechos na carretera.

Eu estou fazendo 100% pelo caminho "tradicional" e nao estou tomando nenhum atalho ou evitando passar dentro das cidades (o caminho as vezes dá volta dentro da cidade e alguns preferem atalhar por fora, direto rumo ao próximo destino).

Bem.. quando cheguei em Najera, logo na entrada, tive uma má impressao da cidade, achei meio feia e nao senti tao acolhedora quanto as demais. Porém, ao final da cidade a paisagem fica mais amistosa e se atravessa uma ponte sobre um belíssimo rio. Essa parte é muito bacana, deu muita vontade de ficar num dos bares ou restaurantes a beira do rio, mas nao tinha vaga no albergue público e nem num privado que fui. Como a única hospedagem disponível que tinha visto era num hostal e já estava ficando tarde, nao quis arriscar ter que pagar 30 euros no hostal (e pensar que no primeiro dia estava cogitando pagar mais que o dobro disso, rs)e pedalei mais 7 km, encarei uma subidinha, e cheguei em Azofra, simpático vilarejo, onde encontrei o simpatico casal de ciclistas novamente e fiquei no albergue público, bastante confortável. Dividi o quarto com uma brasileira e um gringo. Jantei um gorduroso (e gostoso) menú do peregrino num restaurante onde os locais estavam acompanhando um jogo do Real Madrid.

Mas acho que o melhor mesmo do dia de ontem foi um momento em que eu estava saindo de um pueblo e um casal de velhinhos, que estavam sentado na porta de casa com suas bengalinhas encostadas, me cumprimentaram e deram um sorriso de "buen camino".

Hoje.

Saí de Azofra, passei no mesmo restaurante da vespera para o desayuno e, logo nas primeiras pedaladas a musculatura da perna acusou o cansaço acumulado dos dias anteriores. Por mais que eu esteja fazendo o caminho "poco a poco", já tinha mais de 200 km acumulados, cerca de 1/4 do caminho. Bom, apesar de ter chegado "bem" em todos os dias, acho que foi acertado fazer o caminho sem pressa. O caminho de hoje foi composto por subidas e descidas suaves, mas um pouco mais de subidas. Azofra está a 500 de altitude e Villafranca está a quase 1000. Pelo caminho fui parando nos pueblos e pedalando pelas estradinhas de terra que permitem desenvolver uma boa média de velocidade e quilometragem. O destaque fica para a parada em Santo Domingo de La Calzada, onde subi na torre do sino, que dá uma visao de 360 graus e tem explicaçoes sobre os nomes dos pontos na cidade e das montanhas que a cercam no horizonte. Quando desci da torre conheci o Inocêncio (Ino para os amigos), que me deu algumas dicas do Caminho e me contou sobre uma pessoa que ele conheceu e que fez o caminho a pé e de bicicleta. Ao conversar sobre a diferença de fazer o caminho de bike e a pé, começamos a filosofar sobre o caminho, e chegamos a conclusao já repetida por outros de que "se tem que fazer o caminho só porque nunca se está só no caminho" e de que "exitem tantos caminhos quanto pessoas fazendo o caminho".

Depois da filosofia, decidi ficar em Villafranca. Burgos está muito longe e Ino me contra indicou as demais opçoes de hospedagem. De Santo Domingo de La Calzada a Villafranca foi um pedal rapido, por estradas de terra, com duas paradinhas maiores em Granon e Belorado, o sol castigando um pouco, cheguei até cedo aqui. Achei que isso iria facilitar pra lavar a roupa, mas tem fila pra usar a lavadora daqui e nao to afim de lavar na mao.

Poco a poco, mas os dias se vao.. já foi França.. Navarra.. La Rioja.. Agora estou na provincìa de Burgos... já foram mais de 250 Km e 6.000 m de subida acumulada.

Vou ali dar um jeito na roupa e dar uma volta no pueblo. Fotos oportunamente.

EDIT. Oportunamente:



Mais fotos, mais oportunamente. rs

EDIT 2. Mais oportunamente:

































2 comentários:

  1. Maravilha, Matheus. Que inveja branca!!!
    Pelas suas histórias deve tá bom demais! Sempre por la senda!

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    1. Chuck.. ta ducaralho.. impressionante as sortes e coincidencias... agora estou em hontanas. Parada técnica.. umas simpáticas senhoras alemãs falando alemao comigo, tadinhas . Rs... acho q vou ficar em Castrojeriz hj.

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